Conta-se que Karl Friedrich Louis Dobermann (1834-1891) que vivia em Apolda, uma cidade do Estado da Turíngia – Alemanha, tinha várias ocupações como coletor de impostos, recolhedor de cães de rua abandonados no canil municipal e vigia noturno. Devido aos seus trabalhos como cobrador e também vigia noturno, Friedrich Dobermann precisava de proteção confiável, animais protetores e fortes que defendessem a casa e as propriedades sem se assustarem. Para essa finalidade ele primeiramente procurou cães que possuíssem como características capacidade de concentração e forte personalidade. Ele estava preocupado com o caráter e não com a conformação, sendo que seu objetivo era criar um cão vigilante, atento, corajoso e inteligente. Dobermann tinha em mente um cão de guarda com uma mordida forte, um bom olfato e um instinto protetor altamente desenvolvido. Como uma de suas funções era recolher cães de rua, Dobermann tinha condições de escolher os melhores exemplares para o seu propósito. Os cães de Dobermann rapidamente ganharam uma reputação sólida de força, caráter, habilidade de caça e mordida. Logo os cães passaram a ser utilizados pelos corpos policiais e no princípio do século XX a nova raça foi oficialmente reconhecida como cão policial, na Alemanha.
O filho de Dobermann conta que seu pai tinha um cachorro inteligente e destemido chamado “Schnupp”, que ele depois acasalou com uma cadela de proteção muito interessante chamada Bismark (mais tarde chamada Bisart). Os filhotes de Bisart eram pretos com marcas de ferrugem. Um deles, chamado “Pinko” tinha uma cauda natural e produzia alguns filhotes azuis. Otto Goeller, um criador posterior que conhecia Dobermann, alegou que a base da raça era uma vira-lata chamada “Schnuppe” acasalado com um cão de açougueiro. Mais tarde, Goeller afirmou que o Cão Pastor alemão, o Cão Armado de pêlo curto (?), o Dinamarquês e o alemão Pinscher também desempenharam um papel importante na formação da raça.
Um artigo da revista alemã de cães datado de 1898 afirma: “No final da década de 1860, o dono de uma pedreira em Apolda chamado Dietsch tinha uma cadela azul-acinzentada, uma pequena Pinscher, que ele acasalou com um cão de açougueiro preto. O macho já tinha as marcações castanhas características e era um cruzamento entre um Cão Pastor e um Cão de Açougueiro. Dobermann, um cobrador de impostos que infelizmente morreu cedo demais, cruzou esses dois cães que se tornaram bons cães de guarda com Pinschers alemães”.
Em 1901, Richard Strebel (autoridade alemã em questões caninas) escreveu: “É duvidoso que o Dobermann Pinscher seja um verdadeiro Pinscher, provavelmente deveria ser classificado mais como um Cão Pastor”.
Em 1933, o clube alemão Dobermann investigou as origens da raça e definiu que o ancestral principal era o Pinscher alemão. Mas em 1947 Herr Gruenig escreveu que o Dobermann provavelmente descendia mais do Beauceron, porque o Pinscher alemão não tem estrutura corporal ou comportamento semelhante e não seria possível aumentar a altura média do ombro de 40 para 70 cm em apenas trinta anos.
No entanto, os cães “dobermann like” (conhecidos como “raça Thueringen”) estavam em volta de Apolda antes de Herr Dobermann começar seu intento e estes surgiram do cruzamento entre Pinschers e Sheepdogs alemães. Beaucerons são conhecidos por estarem em Apolda naqueles dias e também é possível que eles fossem ancestrais dos Cães de Açougueiros, que não eram de raça pura. Alguns dos primeiros Dobermann eram parecidos com os Cães de Açougueiros e dentre esses, alguns pareciam os Rottweilers.
Max Kuensler escreveu em 1925 que o Cão Pastor, o Weimaraner e o Pinscher alemão estavam envolvidos, mas certamente nenhum Rottweiller ou Terrier era conhecido em Apolda naquela época. Por outro lado a maioria concorda que o pastor de Thueringen (cão pastor), Cão de Açougueiro, German Pinscher e Beauceron estavam disponíveis e alguns especialistas incluem o Terrier preto e castanho. Curiosamente, as melhores autoridades do Rottweiler confirmam que os chamados Cães Açougueiros eram o ancestral comum de ambas as raças.
Inicialmente as qualidades de guarda e destreza representavam algum obstáculo à popularidade da raça, mas, em 1863 Dobermann apresentou seu “Dobermann Pinscher” no primeiro mercado de cães da Alemanha, em Apolda, com grande sucesso. Este evento tornou-se tão importante que é oficialmente registrado na história da cidade.
Sabe-se que, depois da morte de Dobermann, tanto o Manchester Terrier quanto o Galgo Inglês foram introduzidos na raça dobermann.
Em 1890, o Padrão para a raça foi escrito e aprovado pelo Kennel Club Alemão, que teve poucas mudanças até os dias de hoje.
Próximo da época da morte de Dobermann em 1891, surgem os criadores Goswin Tischler e Otto Goeller, que foram muito importantes e influentes no desenvolvimento da raça. Otto Goeller, que tinha aproximadamente 150 cães na sua criação, fundou o primeiro clube da raça, o National Dobermann Pinscher Club em 27 de agosto de 1899.
É inegável e fundamental a importância de Friedrich Dobermann na construção sólida da base da raça, na medida que ele teve olhos extremamente apurados para escolher os cães certos, com as características certas para dar início a essa grande epopéia. Como fundadores e pioneiros no desenvolvimento da raça não podemos também deixar de dar créditos a Otto Göller, a Goswin Tischler com a criação von Grönland e ainda a Gustav Krumbholz com a criação von Ilm-Athen.
O Dobermann alcançou os seus maiores sucessos como cão policial e militar durante as duas guerras mundiais. Durante a I Guerra Mundial integrou o exército alemão, desempenhando tarefas de mensageiro e explorador de minas. Animal valente e fiel, rapidamente despertou a atenção dos norte-americanos que o usaram no decorrer da II Guerra Mundial como cão militar à semelhança da guarda alemã. Infelizmente o Dobermann também ficou conhecido por vigiar os campos de concentração alemães.